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FUTEBOL DO FUTURO, CADA VEZ MAIS INACESSÍVEL AO TORCEDOR DE CLASSE BAIXA "POR MIGUEL BOENTE"


POR MIGUEL BOENTE


Em tempos de pandemia os torcedores não estão podendo acompanhar em loco as partidas dos seus clubes de coração, com isso o que resta é acompanhar de casa os campeonatos. Mas como então assistir aos jogos, os inúmeros campeonatos pelo Brasil e até pelo mundo?


No meu tempo de criança, quando descobri o futebol, um canal em especial me marcou, era a Band, que com o comando de Luciano do Valle passava esporte praticamente de segunda a segunda. Tudo bem que nem todas as transmissões eram ao vivo, muitos jogos eram apenas compactos, mas para quem só tinha aquilo, era um sonho! Naquele tempo meus amigos eu nem sonhávamos o que era ter uma TV por assinatura.


Anos depois foi ter minha primeira experiência, e naquele tempo já era bem caro, mas a questão era que mesmo com a TV por assinatura o esporte ainda era muito valorizado na TV aberta, chegamos a ter ao mesmo tempo as principais emissoras do país transmitindo os campeonatos que mais interessavam como carioca, paulista, Copa do Brasil, Brasileirão séries A e B, Libertadores, Copa Mercosul “Que hoje equivale a Copa Sul-americana” sem falar dos campeonatos internacionais, eliminatórias e etc.


Já naquele tempo existiam o que chamamos de serviço de Pay per view, só que os serviços eram um pouco diferentes, no Premiere do grupo Globo você comprava apenas um campeonato por vez, exemplo, eu como flamenguista comprava o campeonato carioca, mas o paulista eu só assistia a partidas que passassem ou no Sportv ou em canais abertos. Aí você pode até falar “Então melhorou! Pois hoje em dia com uma assinatura apenas conseguimos assistir todos os campeonatos que o canal Premiere exibe” sim, nesse ponto ficou mais barato! Naqueles tempos se você fosse comprar todos os campeonatos sairia uma fortuna, mas o grupo globo resolveu fazer com o premiere o que fazem hoje por questão de adequação, pois estavam perdendo mercado, não para concorrentes, mas para o bolso do torcedor que estava pesando, e naquele tempo por incrível que pareça, diferente de hoje, era mais barato ir ao estádio.


Outros serviços de TV eram comprados à la carte, o grupo globo tinha o premiere shows, onde você comprava a transmissão ao vivo de shows de grandes cantores ou bandas, também foi criado o PPV do Big Brother Brasil, para que o público acompanhasse a movimentação da casa 24 horas “Isso estamos falando do início dos anos 2000” e o canal esportivo PSN que surgiu com muitas novidades, direitos de transmissão exclusivos como os da libertadores fizeram com que aquele canal chegasse com tudo, mas em menos de três anos se acabou! “Fazendo analogia, mais ou menos o que está ocorrendo com o serviço de streaming DAZN hoje em dia”.


A mudança de patamar no que diz respeito a direitos de transmissão começou a ter mais importância e mudar depois da copa do mundo aqui no Brasil em 2014. E o motivo era simples! Ir aos estádios já não estava tão barato quanto era no passado, principalmente nos estádios que foram ou reformados ou construídos para os jogos da copa. O estádio do Maracanã que antes acolhia torcedores por R$10 agora passava a cobrar R$100 nos locais mais baratos, podendo chegar a mais de R$1000 nos locais mais privilegiados.


Com isso o torcedor começou a se afastar mais dos estádios, não por sua vontade, mas sim pelos custos. Imagine você torcedor com uma família de quatro pessoas, marido, esposa, um filho maior de idade e um menor de idade, são três entradas inteiras e meia “pela criança menor de idade” só aí são R$350 + transporte + lanches, no fim o torcedor para acompanhar uma única partida gastaria por volta de R$500, e levando em conta que em média um time atua por quatro vezes no seu estádio por mês, se essa família tradicional for aos quatro jogos irá gastar R$2000, ai te pergunto, em um país onde o salário do trabalhador é uma miséria, mal dá para acompanhar um jogo de sua equipe, que dirá quatro!


Então a solução mais “econômica” foi se voltar para TV, afinal, quem tem R$500 para assistir uma partida em loco com a família, tem grana para pagar uma TV por assinatura e comprar os direitos de transmissão do premiere “que sempre foi o monopólio dos serviços nessa área no país” afinal, o grupo globo tinha os direitos de transmissão de praticamente todas as competições nacionais, só não compravam o que não interessava a eles.


E com o novo modelo de comercialização do premiere onde você apenas com uma assinatura mensal poderia assistir todas as competições do cardápio “coisa que tempos atrás era praticamente impossível, a não ser que você tivesse muito dinheiro e fosse um fanático por futebol que não quisesse perder nada” afinal, no passado você comprava o campeonato brasileiro da série A, mas se quisesse ver a série B tinha que comprar também, hoje em dia não! Então de certa forma o serviço do premiere barateou, mas isso só aconteceu por conta das perdas de assinantes “principalmente por inadimplência” ou pelo fato do torcedor ter outras opções para assistir esportes, e aí já entramos na era da internet onde os serviços de streaming como Netflix entre outros são muito famosos, e a galera do esporte resolve agora tentar migrar para internet. Hoje em dia o premiere pode ser assinado apenas para assistir via internet, sem a necessidade de uma assinatura de tv, e serviços como a DAZN que é um streaming exclusivamente de esportes tentaram entrar no mercado, mas não deu muito certo, estão tendo o mesmo fim que a PSN. Gastaram demais em direitos de transmissão em lucraram pouco “pelo menos aqui no Brasil”.


Outros serviços como EI Plus “agora estádio.com” Whatch ESPN e outros surgiram para levar mais conteúdo ao público, mas o problema é que muitos desses serviços adquiriram exclusividades em campeonatos, assim como o canal conmebol TV que transmite jogos da liberdares, sul-americana, recopa e etc.


Todos esses serviços são relativamente salgados para o bolso do torcedor, e alguns só podem ser acessados via internet, ou seja, independe se o acesso vem por uma tv por assinatura ou pela internet, demanda alto custo, pois para ter direito de assinar canais à la carte como Premiere, BBB, Canal Combate, Conmebol TV entre outros você deve possuir no mínimo o pacote básico de assinatura de uma TV que não sai por menos de R$60, isso mais a assinatura do que você quer acompanhar, se for assinar o premiere e a conmebol TV o custo total da brincadeira pode beirar os R$200 “e estou fazendo uma conta baixa” como ressaltei antes, em um país onde o salário é uma miséria, o torcedor comum, assalariado não tem condições te ter esse tipo de serviço em sua casa.


O mesmo se aplica a internet, pois para acompanhar os serviços de transmissões pela internet, a velocidade da mesma tem que ser relativamente boa, então no fim o torcedor tem que ter uma boa internet e ainda assinar os mesmos serviços que tem na TV.


No fim, usar esse tipo de serviço pela internet além de sair mais caro, pode dar dores de cabeça ao torcedor, afinal neste país temos um péssimo serviço de provedores de internet, a maioria não entrega o que promete, então não é nenhum absurdo pensar que bem na hora da partida do seu time de coração você não poderá ver por estar sem acesso a internet “chato né!?”.


Pois é, em tempos de pandemia a vida do torcedor está cada vez mais complicada! Não pode ir ao estádio, e se tenta acompanhar os jogos em casa tem que decidir entre gastar muito assinando uma TV a cabo ou turbinando a internet para poder acompanhar por streaming.


Aí cabe a pergunta, e o torcedor raiz? Aquele que mora em comunidade, que mal tem o dinheiro da feira, esse não conta nada?


Cada vez mais o esporte tem se tornado um produto para pessoas bem sucedidas, desde aquisição de produtos como a camisa do seu time entre outros, por isso que muitos apelam para pirataria “tanto de material esportivo como agora com sistema de TV pirata”


Infelizmente essa é a única forma de torcedores acompanharem seus times e poder vestir a camisa do seu time de coração! Eu acho que ninguém seria a favor da pirataria se os serviços fossem mais baratos, porém, os detentores destes serviços preferem vencer um milhão de assinaturas a R$100 do que 5 milhões a R$30 “esse foi apenas um exemplo hipotético”, mas que ilustra bem o atual momento em que vivemos, onde a economia do nosso país despenca, mas as empresas cobram serviços como se o povo recebesse em euro.


Esse tipo de política que engloba e dá prioridade cada vez mais aos que tem melhores condições, e exclui a classe menos favorecida. Primeiro excluíram de estar nos estádios, e agora querem também tirar a oportunidade de o torcedor acompanhar o seu time pela TV.


Infelizmente parece que esse é um caminho sem volta, cada vez mais vai se criando um abismo social que define quem pode e quem não pode acompanhar o seu time de coração, antes no estádio, e agora pela TV.

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